No aniversário dos 50 anos de Brasília, todos os setores da cidade fervilhavam, mas as artes é que mais fogueira fez.
Foram saraus, shows, peças, mostras de artes visuais, ou seja sons e formas em todas não-esquinas de Brasília.
Como amostra representativa das artes escolho um poeta que pelo conteúdo artístico, ecológico e político, para mim, representa o verdadeiro candango: uma espécime pura e também cheia de misturas, como todos nós aqui por essas paragens.
É um artista que tive o prazer de interpretar sua obra, neste abril, o poeta Nicolas Behr.
Para compartilhar esse deleite deixo com vocês esse conjunto de poemas que fala por mim e por si só explica a importância deste poeta para nossa capital...
POEMAS ACERCA DE BRASÍLIA:
demarcar a área do poema
no planalto central,
tomar posse do poema,
ocupá-lo, loteá-lo
e depois abandoná-lo
nesta página
Brasília só para convidados
sem crachá não entra
sem carimbo não entra
sem puxar saco não entra
sem este poema não entra
enquanto os candangos dormiam
a cidade surgia, impulsionada
pelo entusiasmo do sonho
de construir
por isso, segundo a lenda,
diz-se que em Brasília
os edifícios e os monumentos
apareciam como que por
encanto, espontâneos,
brotando do chão
Tudo estava muito bem planejado
brasília seria demolida
logo após a inauguração
porém, no último instante,
num gesto de grandeza,
jk mudou de idéia
dor arquivada
felicidade protocolada
utopia adiada
brasília é o fracasso
mais bem planejado
de todos os tempos
blocos, eixos, quadras
senhores,
esta cidade
é uma aula
de geometria
palácio da justiça
bicho, esse palácio é a maior cascata!
senhores turistas
eu gostaria
de frisar
mais uma vez
que nestes blocos
de apartamentos
moram inclusive
pessoas normais
Bem, o sr.
Já nos mostrou
Os blocos, as quadras,
Os palácios, os eixos,
Os monumentos...
será que dava pro sr.
nos mostrar a cidade
propriamente dita?
naquela noite
suzana estava mais W3
do que nunca
toda eixosa
cheia de L2
suzana,
vai ser superquadra assim
lá na minha cama
os três poderes são um só: o deles
o plano pilatos lava as mãos
e a sujeira vai toda pro paranoá
burocratas de verdade só fazem amor em almofadas de carimbo
quando estou muito triste,
pego o grande circular
e vou passear
de mãos dadas
com o banco
entrei naquele ônibus da tcb
como quem não queria nada
nem o troco
maria me amou
pelo crediário tentação
maria me amou
em cinco prestações mensais
maria me amou
sem entrada e sem juros
maria me amou
na cama
na mesa e no banho
o guardador de carros
do estacionamento
do jumbo é meu amigo
(isso é poesia? Pergunta
um membro qualquer
da academia...)
só sei que o sorriso dele
é poesia. a gentileza dele
é poesia. o sofrimento
dele é poesia
o seu não é
ASSIM COMO DEIXAMOS O MELHOR PARA DEPOIS FECHO COM A FAMOSA NOSSA SENHORA DO CERRADO:
Nossa senhora do cerrado,
protetora dos pedestres
que atravessam o eixão
às seis horas da tarde,
fazei com que eu chegue
são e salvo na casa da noélia