segunda-feira, 16 de março de 2009

Fim de Semana


Para Oficina Literária, 16/02/2009 (in atraso)

O desafio era: Fim de Semana. Teoricamente fácil. De certo modo pensei que era um tema simples e que não geraria dificuldades.
Como eu estava enganada. Nem sempre o que supomos fácil, ita est...


Promessa Cumprida


Após vãs tentativas a frustração se impôs e chego ao veredicto que o tema fim de semana não me transportou para nenhum universo alternativo, nem nenhuma ficção veio ao meu encontro e nem a minha Mauína, cidade imaginária, conseguiu me inspirar
Rendo-me então ao contexto que está à minha mão e vou falar do meu pessoal e particular fim de semana. Isso deve dar uma crônica e não conto, mas a idéia é produzir texto, portanto não está configurada a especificação de algum gênero literário, né? O que já me antecipa se em um belo dia a poesia me bater à porta...
Vamos então começar pela sexta-feira, que foi 13. Um dia que carrega uma gama de superstição tão ampla que se para alguns significa infortúnio certo para outros é sinal de bom agouro.
Mas de onde vem toda essa superstição em torno da sexta-feira 13? Vamos tentar decifrar um pouco este enigma? Acredita-se que vem inicialmente de duas lendas nórdicas e que, portanto, influenciaram todos os países anglo-saxônicos.
A primeira parece explicar o estigma do número 13 e conta que houve um banquete em Valhalla - ou Valla -, o palácio para onde íam os guerreiros mortos em batalha, para o qual foram convidadas 12 divindades. Loki, o deus do fogo e da discórdia, uma espécie de deus dos infernos, não foi convidado e, enciumado, apareceu sem ser chamado e armou uma cilada onde morreu Baldur, o deus do Sol ou da luz, o preferido de Odin, deus dos deuses. Deste relato surgiu a idéia de que ter 13 pessoas à mesa para um jantar era desgraça na certa e que no período de um ano um destes convidados morreriam.
Diz a segunda lenda que na Escandinávia existia uma deusa do amor, da paixão, da beleza e fertilidade chamada Freya ou Frigga (que deu origem a friadagr, friday, sexta-feira nas línguas anglo-saxônicas). Quando as tribos nórdicas e alemãs se converteram ao cristianismo, a lenda transformou Frigga em uma bruxa exilada no alto de uma montanha. Conta então que para vingar-se, ela passou a reunir-se todas as sextas com outras onze bruxas e mais o demônio - totalizando treze - para rogar pragas sobre os humanos por tê-la desprezado.
Então se chegou à Escritura Sagrada, onde este dia, para os cristãos, virou um símbolo de desgraça, já que 13 eram os convivas da última ceia de Cristo e, dentre eles, Jesus que morreu na sexta-feira. Judas foi tipo um “Loki” deste especial banquete. Só que convidado...


E vem daí o costume de muitas pessoas evitarem viajar em sexta-feira 13; e de que vários teatros no mundo a numeração dos camarotes omite, por vezes, o 13; e em alguns hotéis não há o quarto de número 13 ou pulam do 12º para o 14º andar.
Tive a oportunidade de ficar hospedada no ano passado no Hotel Roosevelt em Nova York e comprovei in loco o que eu achava existir só em filme. O Hotel realmente aboliu o décimo terceiro andar do prédio para evitar azar e realmente, por coincidência, fui extremamente feliz quando estive lá. Tudo bem que tenho sorte sempre que viajo, mas...
Bem, como se vê, a crença na má sorte do número ainda está bastante arraigada mesmo nos países que mais cultuam o científico e racional. Mas isso é tão arbitrariamente entendido que o mesmo algarismo, em vastas regiões do planeta - inclusive países cristãos – é tido também como símbolo de boa sorte.
O argumento dos favoráveis, principalmente àqueles ligados à numerologia é que a soma dos números dá 4, sendo este símbolo de próspera sorte. Na Índia o 13 é um número religioso muito apreciado e não raramente vários templos indus têm 13 budas. E na China, é muito comum os letreiros místicos dos templos serem encabeçados pelo número 13.
Em contrapartida, o Centro Holandês de Estatísticas sobre Seguridade realizou um estudo estatístico em 2008 sobre a data e confirmou que acidentes de trânsito e relatos de incêndios e roubos são menos freqüentes no dia 13 do que em outras sextas-feiras do mês. "É difícil acreditar que isso ocorra porque as pessoas são, preventivamente, mais cuidadosas, ou simplesmente ficam em casa nesse dia, mas estatisticamente falando, dirigir é mais seguro na sexta-feira 13", disse Alex Hoen, um dos responsáveis pela pesquisa.
Bem, nesta minha sexta-feira 13 eu tinha motivos de sobra para comemorar. E sabendo de antemão que era mais seguro para meus amigos dirigirem para minha casa neste dia, convidei, só por garantia, claro, um número maior de pessoas para ultrapassar os treze e chamei uma turma para tomar chopp comigo após um ano sem poder desfrutar deste néctar.
- Por quê? Eu explico.
Em 2008, no dia 13 de fevereiro, me submeti à minha 27º cirurgia e havia uma suspeita de câncer pairando no ar. Como toda boa nordestina criada na religião católica não pensei duas vezes: vou fazer uma promessa para me safar deste mal! Inicialmente pensei em ficar um ano sem bebidas alcoólicas, mas o bom senso chegou à tempo e prometi passar um ano sem cerveja, nem chopp. E já sem o fantasma de malignidades, mas sem útero, tive de pagar a promessa. E achei oportuno fazer uma comemoração digna para este momento especial de voltar à ativa.
E agradeço a todos que ouviram o chamado da deusa Frigga e se fizeram presente para este momento em que um barril geladíssimo de chopp e as comidelas maravilhosas que Noeme e a minha amiga Ivana nos brindaram.
Acordo no sábado com a cabeça rodando, um peso na cabeça semelhante ao que Atlas levava e aquele característico gosto de cabo de guarda-chuva, mas cadê tempo para me dedicar como se deve à velha companheira ressaca. – Tenho de trabalhar.
Despeço-me do meu príncipe com cuidado de deixar um sapatinho marcado e corro para o plantão que hoje é dia de borralha para mim. Explico novamente sou médica e o meu sétimo dia da semana não é dia de repouso não. Neste em particular, por infortúnio, eu estava de plantão de 7 às 13h e também de 19 às 7h.

Não sei se sabe caro leitor, mas os nomes do dia da semana antes eram todos em homenagens aos deuses. Mas chegou a igreja católica e mudou tudo. Ela resolver transformar o primeiro e o último dia da semana em dias santos e não dia de feria ou feira, mercado. Foi assim que o dia de Saturno - o primeiro deus - Saturday se tornou sábado. A palavra vem do latim sabbatum que derivou do shabat ou sabá hebraico que quer dizer descanso ou dia de oração.
No meu caso, o meu sabá não foi de descanso nenhum e nem oração e sim dedicado exclusivamente ao Deus Asclépio.
Mas nada como um dia atrás do outro.
Acordei no plantão e resolvi aproveitar este dia que é tão especial para pessoas de quase todos os países do nosso planeta. Domingo vem do latim dies dominicus que significa Dia do Senhor. Mas para os de origem não latina é o dia dedicado ao deus Sol, Sunday.
Neste domingo em particular me juntei aos antigos pagãos e transformei o meu primeiro dia da semana num dia de festa e animação. Lembra da sexta-feira? – Sobrou quase meio barril. Chamei alguns poucos amigos para minha casa com intuito único do “ não desperdício” claro, e entre risoto, risos e chopp nem notamos que caiu uma grande chuva no nosso dia de sol.

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