terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

De um momento perfeito... que realmente existiu



O exercício era criar um texto (pequeno, ou não) de chofre, sem parágrafos, uma explosão de idéias, um vômito liberado, sem amarras...

Eis aí o filme, sem revisão e sem cortes...

DE UM MOMENTO PERFEITO


Toda pequena alegria da sua vida havia passado rapidamente, assim como passaram os enganos, desejos, as primaveras, os domingos... e agora aquela felicidade chegava não em pequenas amostras voláteis mas sim embalando perenemente as retinas e a desconcertava, pois a jogava num caminho novo, como se cega estivesse, e sem guias, e ela não podia acreditar que isto acontecesse na sua vida e mais difícil era confiar que permanecesse assim, o medo era de ser castigada com uma infelicidade maior quando descobrissem o engano. Até conversou com uma amiga sobre isso que levantou um pensamento no mínimo engraçado “ É verdade, você tem razão: Deus deve ter errado de programação, leu o script errado, pois o seu destino é ter uma vida complicada e infeliz sempre, então munida de toda sua capacidade que é maior que a divina, a sua função é consertar esse engano de Deus. Escreva uma carta de reivindicação solicitando que ele reveja a sua sorte, que ele pare de cometer erros e mande a felicidade para outra pessoa” . Sim, o pensamento era ridículo, mas durante muito tempo era difícil para ela acreditar que “ser feliz é o normal” e que anormal é viver infeliz. Mas agora ela sabia estar vivendo um estado inesgotável e sublime e a lembrança doce do momento atípico em que os elos se uniram e a magia se instalou era um espetáculo único, um delírio emotivo que a inebriava freqüentemente, pois já estavam juntos há alguns meses e todo percurso dos dois foi uma estrada ascendente de expectativas até chegar ao platô confortável em que se encontrava desde então e as imagens viam como um retrato vivido várias vezes, mas que causava um encanto maior cada vez que era visitado. “Naquele momento eu soube que havia estado viva e percorrido estes anos de batalha para estar pronta para viver com ele, para compartilhar cada experiência, cada dor, cada sorriso e percebi isso no instante em que tudo foi perfeito - simples e perfeito - como tinha de ser. Fui para o jardim dele e peguei inúmeras sementes da planta que estava exuberante naquele início de verão, a chuva de ouro, e sem me dar conta do porquê resolvi retribuir toda felicidade e presentear a natureza polinizando uma estrada,como se pássaro eu fosse, e sem precisar pedir ele já era o co-autor da aventura o cúmplice da felicidade e do ato, ele dirigindo o carro devagar, margeando a estrada para que eu pudesse jogar as sementes, criamos então um caminho dourado que ligou o jardim dele ao meu e com isso a nossa aliança estava selada e inquebrantável. Naquela viagem viramos pássaros e resolvemos voar juntos.
Texto de Jeanne Maz

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