quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Outro texto feito para o desafio de contos


A idéia era escrever sobre futebol, que eu odeio, exceto Copa do Mundo, que é uma questão de energia universal...
Resolvi da melhor maneira que pude, que foi sobre futebol no Wii, que embora não jogue, consigo navegar melhor nesta brincadeira.
Segue o resultado:


PARTIDA DECISIVA

A genética é uma ciência exata. Mas é voluntariosa como uma criança mimada! Gerados no mesmo ventre e pelo mesmo pai, Pedro e Mário são tão diferentes que mais parecem estranhos. Às vezes, acontece o contrário, pessoas guardam tanta parecença entre si sem qualquer parentesco conhecido. É, talvez, dessa natureza a semelhança entre Escobar e Ezequiel, entre Capitu e a mãe de Sancha, personagens machadianos de Dom Casmurro.
Deixando a especulação literária de lado, passemos aos nossos personagens.
Mário, o mais velho, tem olhos levemente repuxados, cabelos negros, pele bronzeada, traços herdados evidentemente de algum ancestral negro ou indígena. É um daqueles morenos entroncados que imprimem respeito e temor por onde passa. Pedro, por sua vez, tem a pele leitosa, é de feições delicadas e pouco viris. E aonde vai suscita o carinho ou a piedade das moças sensíveis.
Como deu acontecer, a diferença não é apenas no biótipo é também de caráter. E a convivência dos irmãos sob o mesmo teto era naturalmente tensa e conflituosa. Não pense que era Mário o brigão. Pela confiança que tinha em si ele não precisava provar sua capacidade para ninguém. Não era um covarde, porém reservava-se a usar a força apenas quando era desafiado. Já o caçula pertencia àquela casta de pessoas que desde cedo entendem a vida como uma grande competição.
É lógico que Pedro reconhecia a superioridade física e mental do irmão. E, por mais que seus pais lhes pedissem, as brigas, as disputas, eram diárias. Pedro era quase sempre o perdedor. Aquela sucessão de derrotas foi lhe despertando um ódio mortal do irmão. Intrigaram-se. Deixaram de se falar. Ao se cruzarem no corredor de seus quartos ambos mudavam de direção. Enquanto isso, Pedro estudava um jeito de vencer definitivamente Mário.
– Mário, sei que era para não nos falarmos mais...
Provocou Pedro forçando uma aproximação
–. Nosso acordo foi claro. Você não me dirige a palavra e vice-versa . Não haverá brigas e tudo fica na paz. Simples assim. – Respondeu Mário com contida irritação.
– Me ouve, por favor, sabichão. Quero propor um desafio, assim resolvemos nosso problema de vez.
– Pedro, nós nunca nos entendemos. Seria melhor para todos que não mais troquemos palavras, pois inevitavelmente discutiremos. Estou cansado de você. Me esquece, cara.
– Eu também não suporto essa sua cara certinha, perfeita. É exatamente isso que quero resolver. Estava pensando nos nossos jogos de futebol que nunca saem do lugar. Descobri um futebol diferente de tudo que já jogamos. É um novo jogo baseado num futebol do México antigo e o melhor é que o perdedor é eliminado.
– Por um acaso você está falando do “juego de pelotas” que ocorria no México pré-colombiano? E que terminava sempre com a morte do time derrotado?
– Exatamente! Viu, até que nem sempre é ruim ter um irmão “nerd”. Agora você facilitou a minha explicação. Quero fazer tipo um duelo mortal entre nós. Você escolhe seu time, eu o meu. Jogamos os dois tempos e o que perder é sacrificado. Se der empate vamos para os pênaltis
–Não sei se é uma boa idéia... – Respondeu Mário desconfiado.
– Tá com medo, é, mariquinhas? – Pedro provocou.
– Ah! Vai à merda. Se eu aceitar você me deixa em paz?
– Claro, mané, será a nossa partida final.
– Então marcamos para sábado, à tarde. Certo? E até lá me esquece.
– Certo! Mas me aguarde, Mário. Você vai se surpreender!
E os irmão utilizaram os cinco dias que faltavam para conhecer, em segredo, o campo, treinar os jogadores e estudar táticas futebolísticas. Pela primeira vez, o medo da derrota foi se instalando sorrateiramente em Mário.
Chegara o grande dia. Um olhar atento mostraria a raiva e o receio escondido por trás dos sorrisos dos irmãos. O “cara ou coroa” estabeleceu o campo e o apito iniciou a partida. Os jogadores se aqueceram, largaram, disputaram a bola, e, após um drible, escuta-se o grito:
– Gooooooool!
. Era o time de Pedro. Mas, após uma falta grave, um dos jogadores do lado dele foi expulso.
– Juiz ladrão! Tá roubando de novo! – Pedro esbravejou e o rubor lhe cobriu o rosto.
– Cala a boca, Pedro. Já está procurando desculpas para a derrota?! – Disse Mário tentando retornar ao jogo.
– Sai da frente, irmão.
– Gooooool! Foi a vez do lado de Mário.
E nesse clima de quase cordialidade seguiu-se os quarenta e cinco minutos da partida.
No segundo tempo, a tensão entre os dois era palpável, o esboço de sorriso já não deu as caras. E ainda nos primeiros dez minutos, o placar pareceu se definir em favor de Pedro.
– Esse goleiro é frangueiro. Não disse?! Já ganhei! Já ganhei. – Gritou Pedro exultante.
– Deixa de ser idiota, Pedro! Parece criança! – Mário rebate.
– Eu não disse que ia ganhar?!
Os jogadores se debatiam no campo, mas evitavam faltas graves, pois a arbitragem era severa. Mas eis que o juiz comete uma falha e não marca o impedimento do atacante.
– GOOOOOOOOOOOL!
– Já ganhei. Sou o vencedor, vencedor, vencedor.! – Grita Pedro mais triunfante ainda.
E o suor escorria no rosto de Mário naquela tarde de verão do cerrado. Ele ficou em silêncio, tentando não ouvir os gritos de vitória de Pedro que o irritavam profundamente e, nesse momento, fez o passe certo:
– Goooooooooooool!
Pedro foi pego de surpresa:
– Tudo bem, imbecil. Ainda estou ganhando e faltam somente uns cinco minutos. Você vai morrer já.
Mas como dizem: ‘o jogo - assim como a vida - é um corpo-a-corpo com o destino” e quando menos esperamos ele nos surpreende.
Deu-se então o empate e o rosto de Pedro, com movimentos mastigatórios contínuos, adquiriu uma expressão de ódio mortal.
Enquanto isso, Mário se concentrava para ganhar o jogo e colocar um fim em sua angústia. Não estava suportando o comportamento do irmão e certeza que não agüentaria ir para os pênaltis.
– Goooooooooooooooooooooooool!
Ouviu-se no finalzinho da partida quase sincronizado com o apito final
Pedro não aceitou o resultado. Não podia enterrar com aquele jogo suas esperanças de matar o irmão. Protestou:
– Não aceito. O juiz roubou. Temos de jogar de novo!
– Pedro, acabou! Você vai morrer agora. Vou escolher como será sua morte.
– Não aceito, seu imbecil. Temos de ter outro jogo.
– Eu sabia! Não sei por que eu ainda acreditei em você.
– Você vai ter que jogar de novo comigo, seu patife. Covarde!
Nisso ouve-se uma voz imperativa, acostumada a comandar:
– Garotos, parem de discutir, larguem o vídeo-game e desçam para lanchar. Agora!
O protesto veio em uníssono:
– Mas, mãe! .
– Calados! Se continuarem com essa discussão vou deixá-los novamente três meses sem o “wii”.
Entredentes, Pedro sussurrou: – Você vai me pagar! Se eu ficar sem vídeo-game quebro sua cara! Você ainda me paga, sabichão!.
– Vou me lembrar de nunca mais jogar com você, Pedro
E assim seguiram os dois para atender a ordem da mãe, evitando se olhar.
Mas se continuássemos a observá-los após a merenda, teríamos visto Pedro guardar um revólver na sua antiga caixa de brinquedos e voltar para convencer Mário a marcar uma nova partida.

22/09/09


Texto de Jeanne Maz

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Um conto para um desafio...


Estou participando de um concurso de contos e este texto foi desenvolvido para a segunda provocação:
VERDADE E POLÍTICA.
A idéia era um texto que contasse até onde um político pode ir para manipular a verdade...
Segue então o conto, sem cortes:

QUANDO AS ALMAS GOVERNAM

Mirante do Além era daquelas cidades que ficariam desabitadas e despercebidas para sempre, não fosse por um certo prefeito José das Almas, que a tornou famosa em todo aquele agreste pernambucano.
Esta figura lendária, o José Turgêncio da Silva, conforme foi batizado, era o primogênito de sete filhos. Pai roceiro, mãe professora, não teve muita instrução nas letras, mas era respeitado por sua sapiência, pois, por um capricho do destino, era dono de uma memória enciclopédica e excelente senso de observação.
Foi com um livro de mitologia grega, que lhe caiu às mãos, que sua vida ganhou um novo sentido. Comparou o Doutor Ananias com Zeus, descreveu o caráter do deus, na sua natureza. E o doutor, que nem médico ou doutorado tinha, mas era o fazendeiro mais rico local, e que nunca dera importância a ninguém, passou a ter por ele uma séria consideração. Ele descobriu que o patrão era exatamente igual aos outros e passou a comparar a todos com os deuses gregos, agregando simpatia por onde andava.
Aos dezoito anos, a pressão familiar o fez procurar trabalho. O senso prático o levou à carreira de agente funerário. Ele vislumbrou nesse ofício a oportunidade de ter um emprego que não lhe exigisse muito esforço e menos concorrência já que ninguém gostava de lidar com mortos. E não menos por simpatia e apego aos detalhes do que por falta de concorrentes, rapidamente abriu sua própria empresa: José das Almas.
Fez um curso de necromaquiagem e depois de tanatopraxia, onde aprendeu a arte de embalsamar cadáveres.
Rapidamente tornou-se conhecido por todos, pois, lá estava ele para dar apoio, maquiar e arrumar o defunto com o traje que mais combinasse com sua personalidade. Dominava como ninguém a arte de dar aquela expressão de serenidade e quase felicidade ao morto, que, por vezes, este ficava melhor no caixão do que em vida.
A chegada dele no hospital não era sinal de bom agouro, sendo por vezes temida, mas, assim que o óbito era constatado, não havia ninguém que não o quisesse por perto. Ele cuidava de todos os detalhes do translado, preparação do corpo, féretro, velório, divulgação e enterro. Nesses momentos, sem assombro, ouvia aqueles pensares altos ou frases inomináveis que, no instante de dor máxima, são liberadas, mas discretíssimo nunca comentou o que escutava e sempre estava disposto a oferecer o ombro para qualquer um que precisasse. Diferenciava-se ainda por acompanhar a família até a missa de sétimo dia e jamais se esquecer de encaminhar carta de mês e de ano para família do falecido.
Depois de trinta anos dedicados àquele ofício e já cansado da vida que o seu pragmatismo levara, que tivera o condão de lhe tornar um autêntico solteirão, ele tomou a decisão de se casar. Saiu à procura de moças solteiras nas casas de gente humilde - já que sabia seu lugar e tinha certeza que moça de família nobre não ia se engraçar com ele. – Essas meninas sensíveis demais e cheias de tremeliques não vão nem querer chegar perto de mim.
Numa quermesse da igreja, ele conheceu uma sobrinha-neta do compadre da sua mãe, filha de um sargento aposentado. Era uma morena de cabelos pretos e lisos, olhos espertos, sorriso sincero e andar altivo. Trocaram olhares, saíram para o cinema de mãos dadas e a moça se mostrou receptiva aos seus carinhos, sem fazer dengo demais. Ele pensou: - Gertrudes não é uma encostada, pois tem profissão de professora e ainda tem aquele corpo apetitoso... Não tenho tempo para perder: é ela!
Com a mesma serenidade e paciência com que se comportava num velório, dirigiu-se à casa do pai da moça. E depois de um aperto de mão no futuro sogro, ele disse:
– Seu Severino, queria lhe falar sobre a Gertrudes. Estou gostando da sua filha, ela é jovem, bonitona e tô pensando em pedí-la em casamento. O senhor concorda? Ou tem alguma coisa para se opor?
– Não meu filho, está me estranhando é? Faço gosto para este casamento que queira Deus me dê muito netos. E não se esqueça que ela tem as ancas grandes da família da mãe dela, boas parideiras, viu? Pode acreditar. – Declarou o velho Severino louco para passar a filha para as mãos do futuro genro.
Passado três meses do casório Gertrudes engravidou logo do primeiro filho de meia-dúzia que tiveram . E sentindo que o esposo carecia de ambição começou a incentivá-lo a aceitar os convites que os grandes da cidade o faziam nos momentos de tristeza. Sem puxa-saquismos começaram a ser visto em almoços e jantares cada vez com mais freqüência. A sinceridade e presteza dele chamaram atenção de todos que, sem nem pensar, se viu eleito vice-prefeito de Domingos Duarte, o nome original da cidade.
Bem já o disse Machado de Assis: “A vida é uma lousa, em que o destino, para escrever um novo caso, precisa de apagar o caso escrito”. E assim se deu. O Dr Eziquiel, médico cinquentão, recém-eleito prefeito, teve um infarto numa madrugada de chuva. E enquanto cuidava do morto, sem almejar posições de destaque, José das Almas, subiu ao posto de maior autoridade local daquela cidadezinha de três mil habitantes.
No começo, algumas pessoas acharam que ele pediria exoneração, mas assim que assumiu o mandato ele iniciou uma série de decisões que ninguém teve dúvida da sua intenção de dar cara nova à cidade. Era o primeiro a chegar à prefeitura e o último a sair. E como não era homem de confabulações, discussões ou sofismas, começou a editar decretos municipais para respaldar seu intento: Transformar a cidade numa obra de arte mitológica.
E, sem pesquisas ou consultas, o cemitério foi o primeiro da sua lista. Nunca se soube como adquiriu essa capacidade, mas dizem que ele via as pessoas por cores e quase sempre as descrevia intimamente sem as conhecer. Isto era o suficiente para as pessoas comprovarem seu dom.
Então chegou no cemitério com os ajudantes e ordenou:
– Joaquim, pinte o mausoléu da Dona Cícera, da Tereza do bispo, das irmãs Albuquerque e da viúva do padeiro, de vermelho vivo. – E, virando-se para o outro pintor, no mesmo tom, pediu:
– Tião, pinte de roxo violeta o da Dona Inácia, do Júlio do Genaro, da Rosinha.
E assim, em dois dias, o cemitério se vestiu de um colorido característico e único que perdura até hoje. No pórtico de entrada colocou a imagem de um jovem com asas que a população achou ser um anjo, mas a inscrição já entregava seu mentor: Tanatos, deus da morte.
Como não gostava de entrar em conversação com trabalhadores que reivindicassem direitos, nem de reunião com o Legislativo Municipal ou Tribunal de Contas, ou ainda haveres na capital, buscou logo arranjar alguém que o fizesse. Para isso nomeou o Juvêncio, contador, primo distante da esposa, seu secretário-assessor. E para oficializar o cargo nomeou-o Secretário Municipal de Governo, dando-lhe cartas brancas.
José gastava boa parte do seu tempo conversando com os que marcavam audiência, onde, sem nunca dizer não e com um sorriso no rosto, recebia a todos. Atendia alguns pedidos mais práticos e que não tomassem muito tempo ou de quem com maestria lhe soubesse inflar o ego. Para a maioria dos outros dava como perdido e quando inquirido respondia, sempre da mesma maneira:
– Venha na quarta-feira da próxima semana! – E se a pessoa comparecia de tarde na quarta-feira seguinte, ele dizia: – Mas era pela manhã. Agora não dá mais. Tenha paciência, venha na próxima quarta-feira.
Contudo, os problemas da população pouco lhe interessavam. Dedicava seu tempo em estudar e organizar projetos grandiosos, baseados na mitologia grega.
A pedido da esposa reformou o colégio municipal e depois colocou uma estatua colossal de Atena, a deusa da sabedoria, e a pintou de púrpura, em homenagem à deusa. Porém, aumentar o salário dos professores e dos funcionários públicos nem pensar. Dizia: - A maioria trabalha pouco, não se esforça para nada e só querem vida-mansa!
O hospital local, pintou de verde, a cor da saúde, e fez um monumento a Asclépio, deus da medicina, com seu cajado de cobras.
Na porta do mercado público, criou uma ponte em forma de arco e nas duas pontas colocou Hermes com suas asas nos pés. No entanto, como a oposição começou a criticar veemente uma ponte que ligava nada-a nada, ele colocou um lago abaixo com uma fonte dionisíaca e que oferecia água à população nos dias de seca.
Aproximando-se o fim do mandato resolveu deixar um marco grandioso do seu governo. Despejou os vizinhos do prédio da prefeitura, não pagou as indenizações e construiu ali uma praça, enfeitada de fontes com ninfas e uma estátua sua como fundador.
– Estou me antecipando a vocês. Provavelmente vão querer me homenagear somente quando estiver cheio de rugas e careca. Não cultuo imagens decrépitas. Então, elimino um futuro problema de vocês e o faço agora para eu mesmo usufruir do monumento. – Ele argumentou para o espanto de todos.
Passado os quatro anos, ele se viu somente com trinta e nove por cento dos votos. Seu forte concorrente, Manuel Bixiga, um jovem advogado, da antiga família dos Braga Veloso, recém-chegado do Recife, prometia aumentar salários e restabelecer a antiga tradição da cidade.
Faltando dois meses para a eleição, desesperado pelo poder que o viciava sem dó, acordou após uma noite de sonhos infernais com uma idéia. Redigiu cartas onde o enunciado citava Vitor Hugo “ Os mortos são uns invisíveis e não uns ausentes”, pois já havia aprendido algures que demonstrar saberes imprimia respeito, e frase de efeito também.
Pediu para o secretário encaminhar as cartas, que, após a saudação inicial, seguia-se detalhes particulares, para cada uma das dez famílias mais numerosas e influentes da cidade. Sentou-se no gabinete e ficou aguardando.
Todos vieram ansiosos conversar com ele e tirar dúvidas. Era quando ele confessava que o finado - geralmente o patriarca mais importante- havia aparecido em sonho e dado orientação de falar com a família isso e aquilo e no final usando frases condignas com o falecido solicitava, em transe, que apoiassem o senhor prefeito. E para dirimir dúvidas fornecia dados, gostos pessoais, pensares que ninguém sabia.
Vendo que a estratégia estava tendo resultado resolveu mudar de rotina diária.
Saindo para o trabalho, após seu café da manhã substancioso, ao invés de passar apressadamente, começou a parar na rua e conversar com o eleitorado sobre as notícias do além: - Dona das Dores, o finado João mandou dizer que gostou muito do seu jardim de acácias. - Querido Meneses, seu avô Tertuliano, disse para casar sim com a Fabiana que ele aprova a moça.- Dona Mundica é para senhora tentar perdoar o falecido e rezar dez ave-marias toda sexta-feira para ele...
E como com mortos não se brinca, os inimigos, que planejavam contratar um capanga para matá-lo, ficaram com medo das iras dos mortos e por consenso resolveram deixá-lo em paz. Sendo assim ele foi reeleito com uma maioria de oitenta e nove por cento e como primeiro ato do novo governo trocou o nome da cidade para algo mais propício: Mirante do Além.
Dizem que até morrer, aos noventa e sete anos, ele, sua Gertrudes e os seus filhos, governaram a cidade.
Na sua morte, toda população local e dos arredores compareceu e reza a lenda que houve chuva, choros e soluços em todos os cantos da cidade por quase uma semana. Contam ainda que muitos destes lamúrios, eram trazidos pelo vento, nunca se soube de onde vinha...
Com a figura de José das Almas confirma-se a máxima:

"Em política, o importante não é ter razão, mas que a dêem a alguém." E se for aos mortos melhor

Texto de Jeanne Maz

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Viagem na poesia...


Assim como prometi vou registrar minhas viagens.

Ontem viajei na poesia...

Fui convidada para o 5º Sarau da casa da Aldemita.
Ao chegar, embora conhecendo somente uns três no salão lotado, me senti acolhida.
"Nosso Sarau": Sarau da Aldemita:

A casa possuia aquele sorriso aberto, gostoso e aconchegante da anfitrãe um piano na sala é sempre uma promessa de deleite.

Entrei e inacreditavelmente não levei a máquina fotográfica - fato raro
para quem usa esse instrumento como outros usam canetas, chaves, calcinhas...
Mas vamos lá, revertendo a situação fotografei todos com os olhos e descrevo algumas cenas para você ter idéia da mágica. Por não lembrar o nome de todos descreverei apenas imagens.
Abriu a noite com uma morena linda tocando duas peças românticas ao piano.
Seguiu-se uma voz maviosa falando da biografia e das poesias de Capinam.
De repente uma voz vigorosa, trazido por um nordestino, invadiu a sala com uma declamação magistral de Patativa do Assaré.
Outra nos esclareceu sobre a inutilidade atual da Mulher Boazinha, recitando Martha Medeiros.
E uma voz visual recitou um poema de um encontro-desencontro de um par.
Claro que nesta reunião divina não podia faltar Deus entre nós e ele surgiu atendendo pedidos por telefone numa voz masculina e a seguir uma feminina nos apresentou ele em várias roupagens e cores.
Nessa confusão teve até um empregado que durante o trabalho viajou para Paris sendo acompanhado por Monalisa.
Tudo isso sendo intercalado no momento preciso com dois músicos: um no violão, outro no saxofone, acompanhados de uma voz morena e poderosa. Gente esses três eram demais!

Mas o ponto alto da noite foi a dona da casa, Aldemita, nos presenteando com a Valsa nº 2 de Chopin, ao piano. Inesquecível!!!

Após isso tudo, encerramos a noite com um músico-jornalista cantando um samba de Brasília e uma voz feminina cantando: "Eu sei que vou te amar".
Obviamente teve muito mais que a memória e a pouca capacidade jornalística não possibilita exprimir.
Nisso tudo eu, uma pernambucana-piauiense de Brasília, me atrevi homenagear minhas terras, declamei: Manuel Bandeira e Torquato Neto. Ofereci uma poesia carioca contemporânea do Érico Braga e finalizei com uma poesia minha que fecha esta noturna descrição:

AUTORRETRATO
(em vestido de festa)

Me sinto vermelha,
cor primária, primeira,
pulsátil, inquieta, majestosa,
sofrida

Prefiro a intensidade,
vivo de paixões,
pagando o preço, portanto,
de grandes mágoas, dores intensas,
não faz mal,
não tenho medo,
transito bem na sombra como na luz,
Recomeço...

Devoro livros e comida,
com volúpia, com sofreguidão,
mas, por vezes,
degusto bem lentamente,
a depender do menu e da companhia

Bebo tudo, tomo todas
(menos refrigerante, faz mal)
Ah! mas o vinho tinto
combina melhor com meu cheiro,
com meus gostos,
é como um beijo eterno em Baco

Odeio TV, prefiro o silêncio
ou o 'barulho' de uma boa melodia

Então, eu sigo assim, nesta estrada,
a sina de todos:
um pouco de médica, um pouco de poeta
um tanto de louca...




Poesia Jeanne Maz

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Cidade dos cristais








Oi,
Retomo agora meu blog com novas decisões. Já viram que sou mulher de tomar decisões e ante o fracasso, que em minha vida é quase inevitável, saio para tomar fôlego e volto com mais decisões, claro, rs.

Resolvi publicar não somente textos trabalhados na oficina -ocasionalmente até o faça - mas, os contos e poemas reservarei para o blog da oficina de literatura: www.cobrascomasas.blogspot.com, ok?
Aqui neste meu cantinho resolvi fazer tipo um diário e a mola mestra será minhas viagens, já que, por natureza do ascendente em escorpião, não consigo sossegar muito tempo sem viajar para dentro e para fora de mim...

Envio impressões agora da viagem mais recente, realizada dias 05 e 06 deste mês.

Fui para adquirir cristais em Cristalina que dista 137 km de Brasília. Nesta pequena cidade de Goiás encontra-se a maior reserva de cristal de rocha do mundo.
Para os místicos é considerado o ponto de equilíbrio do mundo, pelo magnetismo de seu solo.
O que se perde em matéria de infra-estrutura de restaurantes, bares e hotéis, que ainda é área pouco desenvolvida, se ganha em beleza natural.
É uma região rica de variedade de cristais e de espécimes do cerrado. O pôr do sol é um encanto, as flores são lindas e o brilho das pedras e nos olhos é garantido.
Não tenho como esquecer da companhia, que foi fundamental: Engels Espíritos (nosso cicerone), Edson Alves e Keit Guimarães.
É uma dica boa para quem gosta de natureza, cristais e cerrado.
As fotos foram tantas e tão belas que difícil foi escolhê-las.
Espero que aprovem.
Um xêro,
jeanne maz

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