domingo, 21 de março de 2010

Um paciente artista que me deu um mundo...


Enquanto março não finda e aproveitando para saudar o outono que começou, deixo uma homenagem aos nossos pequenos frutos de esperança, as crianças.

Escolhi trabalhar com pediatria para nunca perder a capacidade de me emocionar e é impossível não se contagiar pela energia, ingenuidade e deslumbramento das crianças.
Com quase dezoito anos de pediatria tive, e tenho, pacientes especialíssimos; nunca poderiam caber tantas histórias e fotos desses amiguinhos especiais nem no blog, nem nos arquivos e, principalmente, não na minha memória que perde fatos, esquece nomes, devora imagens...

Esse pacientinho que está na foto comigo é o Jhonatan Gabriel, que adora se arrumar com capricho para as consultas (por vezes até de camisa social e gravata) e sempre me leva de presente desenhos que sua imaginação artística compõe. E será artista como eu, ele assegura.

Mas o que o tornou mais especial foi quando na primeira consulta deste ano ele me levou 3 desenhos:
O primeiro com um círculo enorme e com traços no seu interior ele me disse que era "o universo, meu mundo, e eu poderia colocar nele só o que quisesse."
O segundo desenho era uma casa grande com janelas, portas e corações e cercado de balões com corações que segundo o autor, era minha casa cheia de amor.
O último desenho era eu, do lado da minha casa, segurando a mão de um homem, meu namorado (que ainda chegará) e ambos estávamos envoltos em corações. Este homem tinha uma chave enorme(cheia de corações) que abriria minha casa e meu amor.

O Jhonatan acabou de fazer 6 anos, acompanha frequentemente este blog e está aqui porque um dia ele me deu um mundo, de presente...

Conciliando artes: medicina e criação


Foi difícil para mim conciliar o processo criativo das artes com a rigidez pragmática da medicina, mas hoje trafego nas duas áreas sem grandes abarroamentos. Creio que me tornei melhor médica pela sensibilidade artística desenvolvida e melhor artista pela capacidade de organização, e de respeito aos limites, que a medicina me cultivou. Essa dicotomia que por muito anos foi cultivada em universos distintos, atualmente vem se entrelaçando progressivamente, gerando uma sensação de completude que me faz muito mais feliz.

Quando me perguntam, frequentemente, se pudesse escolher só uma, o que faria? Respondo sem titubear: Sou médica-artista indissolúvel, pois preciso do aterro que a medicina me dá (senão iria embora qual balão em ventania) , porém a arte é fundamental para me fazer sonhar e me equilibrar; com essa união nem permaneço voando perdida muito tempo, nem o chão consegue me devorar...

A imagem que ilustra a mensagem compõe um painel da minha casa e representa o "Olho de Horus", o símbolo egípcio maior da medicina.
Conta o mito que numa batalha o olho esquerdo de Hórus - filho de Iris e Osiris- foi arrancado, mas depois por méritos, restaurado. Hórus, o deus falcão tornou-se o deus da arte de curar e seu símbolo começou a ser utilizado por Galeno no sentido de restaurar a saúde do paciente, assim como o seu olho foi restaurado.

O símbolo foi estilizada para 2 Rs e depois um R e um Z (Zeus); posteriormente um R com um "x" cortando a perna direita do R, sendo este último até os dias atuais o símbolo universal do receituário médico...

terça-feira, 9 de março de 2010

Sobre a exposição: Poéticas Rupestres




A vernissage transcorreu entre os quadros rupestres, o visual colorido dos quadros e dos amigos, e as poéticas das conversas e dos encontros. Embora, ainda no verão, chovia muito, mas felizmente não impediu os amigos de se aprochegar e deliciar-se com o banho de sentidos.
Fica o registro e o convite de aparecer por lá...
Poéticas Rupestres - Jeanne Maz

terça-feira, 2 de março de 2010

POÉTICAS RUPESTRES



Hoje à noite será o coquetel de abertura da minha exposição: Poéticas Rupestes: Viagem arquetípica ao antes
Hospital Daher. Lago Sul. Brasília-DF
Confira fotos de alguns trabalhos que estarão em exposição durante março e abril no Espaço Cultural deste hospital.

Segue o texto confeccionado por Celina Ribeiro, produtora cultural, curadora de arte e proprietária da Art & Art Galeria, Lago Sul-Brasília-DF. E para ela meu eterno agradecimento pela disponibilidade, texto, tudo...

JEANNE MAZ

"QUEM SOMOS NÓS"


A Extraordinária visão e concepção de Jeanne Maz sobre a arte ancestral, faz com que ela estabeleça um link da arte rupestre com a arte contemporânea do Século XXI, propondo uma tomada de auto-consciência ao Homem em geral, eliminando distâncias de 70 mil anos para cá.

Ela "atualiza" o ancestral, apondo cores, movimento e um brilho solar, peculiar da nossa "tropicália", mas que também reflete um astro em chamas, uma bola de fogo, após o "bang-bang", criando o universo... numa fusão de pensamentos, formas e atitudes que resultam numa Arte, ao mesmo tempo original, atávica, ancestral, nova e antiga. Ela consegue estabelecer uma conectividade impressionante dos primórdios da arte aos dias de hoje, mas mais impressionante ainda, é resumir a criação do universo e os principais elementos arquetípicos que nos transformam "num só corpo e num só espírito", antes mesmo de termos sido criados... Parece complicado, mas é totalmente simples. .

Desenho com movimento, traços finos e elegantes, e cores feéricas, de fundo, riquíssima em simbologia, na Arte de Jeanne ressurgem os arquétipos mais significativos, passando pela origem da humanidade (Adão e Eva), a serpente (quantos símbolos ela encerra...), o mar (a água - o princípio da vida - onde a vida se desenvolveu), murais, e tantos outros.

Volta às origens

A elaboração mental da artista, seus estudos, seu interesse e curiosidade pela vida e pelo ser humano, não passam despercebidos aos olhos de quem observa seus trabalhos. Se a arte rupestre representa "40 mil anos de Arte Moderna" Maz foi mais fundo: em suas pesquisas, remontou a 70 mil anos, às origens do Homem Americano: esteve na Serra da Capivara; estudou também a arte pré colombiana: os maias, incas e aztecas...
Num dado momento da vida, Jeanne se distanciou de si mesma. Numa analogia patente, volta às origens do Homem Americano em suas pesquisas, que acabaram por desembocar nos 70 mil anos do mais velho ancestral das Américas, em São Raimundo Nonato, município do Estado do Piauí, numa região semi-árida, a sudeste desse Estado, na Serra da Capivara, onde a arqueóloga Niède Guidon descobriu o Primeiro Homem Americano.
(Estão assim desmentidos nosso antigos livros de História, dizendo que o primeiro Homem Americano teria se instalado no USA, vindo pelo estreito de Bering)

Não coincidentemente, Jeanne, pernambucana de nascimento, foi criada no Piauí, para onde se mudou aos 8 anos de idade. Pois, segundo Kertz, a coincidência não existe. Não sei que ímã magnético transporta pessoas a lugares com os quais elas se identificam. Assim foi com essa artista que - com uma capacidade rara de transformação, consegue em seu trabalho trazer à tona a rudeza de uma caverna ou a aridez de terras nordestinas e fazê-las tão vivas, que mesmo com a textura rough, surge uma luminosidade mágica, conseguida com uma tinta em tom amarelo característico, conferindo toda a alegria e leveza de uma arte lúdica que, no caso, poder-se-ia chamar de primitiva, se não fosse tão elaborada.

O reencontro do Homem com o Homem
A busca de si mesmo


A ancestralidade é a nossa via de identidade histórica. Sem ela, não sabemos o que somos e nem o que queremos ser.

A sofisticada elaboração mental que leva JEANNE MAZ a conduzir o espectador de suas obras a um grande passeio interior em busca de si mesmo, é capaz de revelar toda simplicidade e toda a complexidade do ser humano, mas sempre numa linha, num fio condutor único que nos mostra, ou pelo menos nos faz refletir no axioma "QUEM SOMOS NÓS", resulta na mais lúdica e singela arte - como aquelas desenhadas no interior das Cavernas há 40 mil anos atrás. Os mistérios yungianos parecem estar sintetizados na obra de Maz. Suas referências pictóricas são o que há de mais antigo. Suas pinturas o que há de mais contemporâneo.





Um poema rupestre



Assim como o relógio caminha com as horas, passaram-se os dias em Teresina: as festas do fim de ano, as férias , as farras de janeiro na Casa da Ponte, o carnaval...

Este ano iniciou-se com intensidade de programações, infelizmente porém, e diretamente proporcional a isso, é a carência do tempo para postar nos blogs, responder mensagens, sair da toca...

Mas continuei com as poesias e elaboração de arte visual, para provar isso deixo um poema meu que recitei no Sarau da Aldemita e da Casa da Ponte:

HOMEM PRÉ-HISTÓRICO


Em teus braços
esqueço todas as regras
Tiro a máscara de visita
deixo do lado de fora a fera
Guardo o escudo protetor
misturo-me às cores da terra
Descanso garras e armas
dispo-me das tintas de guerra

Indomavelmente sucumbida
permito-me ser fraca, carente
ingênua lua sorrindo
Dou adeus a títulos, direção
Viajo completamente nua
Exorcizo competição
Entrego-me ao "eu" que me dás
reconheço-me em tuas mãos

Sou fracasso e sucesso
no mesmo lado da moeda
não tenho medo de perder
Sou o que teus olhos refletem
No outro lado és tu
incansavelmente confuso
paradoxalmente seguro
meu horizonte a correr

Em teus braços posso ser eu
Sem medo de me perder...


Jeanne Maz. Fevereiro/2010