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Hoje à tarde me acheguei à cidade de Bento Gonçalves(RS) para participar de mais uma edição do Congresso Brasileiro de Poesia. Evento este coordenado desde o início pelo poeta Ademir Bacca.
Aqui a poesia sai dos livros, passa pelas vitrines, atravessa a rua, penetra nas praças, nas bocas, na retina e como uma luz toma todos os espaços permitidos ou impenetráveis.
Esta é a 8º vez que estou aqui e tudo que respiro por estas paragens faz parte de mim. Impossível não se emocionar. Impossível que na chegança à nossa casa a poesia não tenha se impregnado nos cabelos e um fio mais desconfiado ou até despavorido não queira soltar o verbo...
Melhor que falar de poesia é mostrar uma. Segue, então, uma poesia que fiz exatamente há 3 anos, neste mesmo hotel vinocap, nesta mesma véspera de congresso, neste mesmo mundo de lembranças:
PEQUENO ÓBITO
Hoje,
Comecei minha morte
neste quarto de hotel
Mastigando nós
recrio cadáveres
que gozavam felizes...
Degusto roupas entrelaçadas
e carinhos despenteados
Os beijos e risos
que habitaram o ventilador do teto
Parados
Anestesiam minha língua
e se prendendo à faringe
sutilmente me sufocam
Na cena não digerida
o sangue tinto corria pelo pano branco
que o matizava
como um artista louco
que aleatoriamente
expressa seus sentimentos
numa tela vazia
Tento respirar as tintas da parede
sem sucesso
Busco um abraço invisível
que me massageie o peito
mas só a fisionomia abjeta se reflete
Grito em silêncio a minha dor
E ofegante
varro meus cacos de vidro
Paro, perplexa,
pois não existem lábios
para a boca-a-boca
Meu corpo lívido ressurge num palimpsesto
Deto-me!
Abro uma garrafa de tannat
E sorvo a taça
cheia de lágrimas e aromas
E jazo horas eternas...
Respiro profundamente
Contenho meu pequeno óbito
E saio no frio
Sob um sol pálido
Após a chuva infernal
01 p/ 02/10/2006,
Congresso Brasileiro de Poesia
Poesia de Jeanne Maz
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